sábado, 27 de dezembro de 2014

Açúcar

Chegando na padaria, Nina começou a encarar os doces um por um.

- O que deseja, senhorita?
Perguntou a moça atrás do balcão.

( Desejo o inalcançável, sempre. É quase como um hobby, uma mania, um toc. Quero sempre voar, acabar com esse show de crueldades que é o mundo. Desejo que talvez nunca se torne realidade. Ainda assim, espero ansiosamente em meu sono profundo, que as pessoas consigam perceber a existência de um céu além dos prédios. Aguardo paciente e silenciosamente o pedido de socorro que enviei ao universo naquela tarde quente de novembro, enquanto ouvia o som das árvores sendo cortadas. Gostaria de pedir pra adoçar o coração da pessoa que destruiu minha bicicleta pela segunda vez. E assim me acalmo desesperadamente, tentando criar uma espécie de blindagem contra palavras e atitudes proferidas sem nenhuma gota de piedade e bom senso. )

- Um sonho.

Até que ponto somos livres?


A gente depende do médico, a gente depende dos remédios, a gente depende do celular, a gente depende da comida que está nos mercados. E se os mercados fecharem a gente morre de fome porque não sabe plantar. E se não fabricarem nossa roupa, usaremos os trapos até que não seja mais possível vesti-los. E se a temperatura do planeta aumentar, decorrente da poluição que lhe enviamos, vamos, muito provavelmente, passar sede.
(Chove aqui dentro. São gotas de pensamento confuso, imerso em dilemas existenciais.)

Vida

Perspicaz.
Sagaz.
Audaciosa.
Graciosa.
Radiante.
Estonteante.

Lá vai ela, com a bagagem amarrada ao pensamento, leva apenas uma pequena garrafa de água na mão esquerda. O coração, petulante, insiste em quase querer sair pela boca, num súbito ataque de loucura histérica. Ao som da melodia entoada pelos pássaros e dos ruídos provocados pelo atrito entre motores e asfalto, o vento começa a soprar destoante: as árvores começam a dançar com seus longos braços, fazendo vibrar o troco, reverberando nas raízes. A terra treme, mas é um tremor sutil, quase imperceptível para sentidos empoeirados.
Os olhos, atentos ao menor movimento, refletem a luz do entardecer. Aos poucos, as pupilas dilatam-se e passam a embriagar-se com a magnitude da influência lunar.
As estrelas vão desaparecendo conforme as cortinas se fecham. Num ritmo lento e amável, o céu cede lugar para o sonho profundo.



Mar de emoções

Importo-me.
Recluso-me a sair.
Lá fora está cheio de egos inflados. Todos densos de vazio. Falta espaço para florescer.
Amabilidade, sensibilidade e afetividade foram banidas total ou parcialmente dos encontros.
Num mundo onde é feio demonstrar carinho e transbordar amor: derreto e viro água, escorrendo conforme a inclinação da colina chamada vida. E se, por insistência, resolvo nadar contra a correnteza; logo me vejo mais transparente e perfurada que um tule.

Pensar

- E aí, como é que vai a vida?

(Ah, a vida vai. Eu é que não consigo acompanha-la. Às vezes eu paro e descanso. Logo mais pego um atalho e continuo indo com a vida. Perco um tanto de detalhes rasos e em compensação ganho em profundidade de acontecimentos.
Nos caminhos mais hostis, encontro-me de coração perfurado, tal qual um tule, porém mantenho-me íntegra. O momento da calmaria as vezes chega no final da tarde, quando as máquinas são silenciadas e então, com um pouco de imaginação, é possível ouvir o Sol se despedir.)

- Vai indo. E a tua?

promessa


perder-se
encontra-se
diluir-se
até que o ponto seja reticência
até que tudo seja essência.

não entender
perder o interesse em controlar
desaparecer nos tons de mar.
renascer.
florescer em todas as estações
encorajar o voo das emoções

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Hoje tive uma experiencia desagradável

Foi durante uma reunião do DCE na UEM.

             Fui ao local com as melhores das intenções, já sabendo que minha ideologia talvez fosse rechaçada. Não precisei abrir a boca pra que isso acontecesse. Ao ouvir um rapaz se pronunciar a respeito do corte de árvores e sobre agir diante algo que parece irreversível, pensei que haveria um pouco de luz no fim do túnel. Engano meu, pois o que mais se ouvia eram comentários pejorativos a respeito de quem defende a natureza.
Como se não bastasse a incrível falta de sensibilidade, percebi um certo "ar de arrogância" pairando no ar. É sabido de todos (imagino eu) que quando uma pessoa não consegue articular seu discurso de forma coerente e clara, acaba por erguer a voz e usar palavreado de baixo calão. E adivinha? Isso aconteceu. E não foram poucas vezes.
             Falam muito sobre a baixa parcela de estudantes que participam efetivamente do movimento estudantil, porém não há espaço para um pensamento mais divergente em relação ao que já foi estabelecido. É compreensível porque alguns aparecem uma vez e nunca mais voltam. Se você tem apenas boas intenções e força de vontade, te chamam de despolitizado pra baixo, destruindo e contradizendo todo o discurso de igualdade e a "calorosa", porém ilusória, recepção de boas vindas.
             No mais, é triste confirmar que, cada vez mais, o ser humano se desumaniza, perdendo todo o tato necessário para lidar com outros seres humanos.

E como diria o bom e velho Rubem Alves:

"Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser opressor."

terça-feira, 11 de novembro de 2014

Sobre as coisas que eu nunca te disse.

Acenei com um "tchauzinho-imenso-cheio-de-carinho-oculto-querendo-dizer-eu-te-amo". Mas não disse.

(...)

E eu fiquei ali, vendo você sumir na luz solar, enquanto levava junto a luz do meu olhar. Continuei sentada naquela mesa vermelha, fazendo movimentos contidos, cheios de sentimento interno, tentando te acompanhar com o pensamento. Desejei que eu tivesse a coragem de ter levantado, largado minhas coisas pra trás e ter ido ao seu encontro pra dizer qualquer-coisa-aleatória-pra-ficar-na-sua-presença. Mas não fui. Fiquei.

(...)

Despetalei, delicadamente, todas as possibilidades de te contar sobre o turbilhão de emoções que me causou a sua breve passagem. Cheguei à lugar algum. Ponderei com meus botões, que, talvez, você não quisesse ler palavras soltas.
Pensei, ali no âmago do meu ser, que se eu proferisse qualquer elogio você responderia com um sonoro silêncio pra não me magoar.

(...)

Dispersei. Entrei em outra dimensão de realidade, onde há um lugar chamado sonho. Mas jamais, em hipótese alguma, consegui apagar a sua radiante aparição.

(...)


Silenciei.

terça-feira, 4 de novembro de 2014

Presente

É um sentimento confuso.
Ao mesmo tempo que estou lá, estou aqui também. E quando não estou mais lá, ainda sinto que estou, ainda sinto que ficou gravado em mim algum resquício incandescente daquela atmosfera. De fato: ficou.
Sinto que os diversos lugares coexistem no espaço da minha existência, e que, de maneira efêmera e solene, vou flutuando pelo espaço e tempo, observando tudo o que passa diante meus sentidos.
Percebo então que, a essa altura das coisas que nem coisas são, já não sou mais a mesma desde o início desse pequeno texto, e, sutilmente, me dou conta que o tempo nem sequer existe. 

Tragada amavelmente por um insight, percebo enfim que estou morrendo e renascendo a cada manhã. E dentro desse mesmo insight, um outro insight toma conta do meu ser e me faz entender que estou renascendo a cada segundo.

sábado, 1 de novembro de 2014

Everything reminds me you.

I'm never alone in my way, but I'm feeling alone today.
I feel just like I've never been born
My soul is flying at the storm.
Can you read me when I'm away?


Teardrops falling on my dreams
It sound like the silence at the moonlight
We can wish for anything tonight
'Cause the impossible isn't like it seems

Life is much more that you can hope
The sky change his colours all the time
Just like your thoughts dancing out of the line
You may find a paper blank on some envelope

So, you'll can imagine the words I've never wrote and the feelings that you may know.

sexta-feira, 31 de outubro de 2014

aos avessos

as vezes...
as vezes jogamos muito alvejante no mistério das coisas
desejando que elas se tornem claras e compreensíveis
avessos.
as vezes adoçamos exageradamente o café da vida
esperando que ele nos desperte carinhosamente
quase...
as vezes deliramos acordados de olhos fechados
imaginando que sonhos são feixes de realidade
e se?

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

in contato

sinto que troquei um pedaço de mim
com um pedaço de outro alguém
em uma conexão aparentemente sem fim
viajei do infinito para o além

já não poderia saber
era eu?
ou era você?

travas amavelmente desfeitas
livre feito folha seca de outono
suave tal qual a nuvem que chove
sintonia rarefeita de instantes

não era necessário compreender
desapareci?
ou será que renasci?

inevitável encontro de olhares
sensação de plenitude desconcertante
enquanto dois universos se chocam
é possível ver as estrelas mais distantes


quinta-feira, 9 de outubro de 2014

A culpa é da lua

Quero dividir tudo contigo.

O espaço na mesa. Os flocos de aveia. A janela e o vento que nos acaricia. Compartilhar o oxigênio e as batidas descompassadas do coração. Enfeitar os olhos com palavras silenciosas. Deixar que o tempo desapareça enquanto o abraço durar. Te observar de longe, enquanto você observa o céu. Sentir o timbre da tua voz brincar com as minhas emoções. Encantar-se em cada momento infinito. Permitir que sonhos sejam vida. E a vida sonho. Desvendar os mistérios tão peculiares das cores celestes ao longo do dia. Comemorar cada chegada e cada despedida, de modo que se tornem presença contínua. E ainda que, em um etéreo pensamento, tu estarás contida na memória desmedida do amor.

domingo, 5 de outubro de 2014

Agosto, setembro, outubro.

Eis que agosto, com seus ventos em ritmos alternados, leva todas as energias densas para longe, transmutando o nosso ser, nos fazendo renascer na temporada das flores. Então setembro tem o dom de iluminar, renovando e revigorando a alma.
Quando se esvaem as primeiras pétalas, surgem as variedades de cores pela cidade da vida.

sábado, 20 de setembro de 2014

Quase um lar

Depois da meia noite já nem sinto mais vontade de dormir, com vontade de aproveitar o momento. Durante a madrugada eu sabia que choveria, mas não imaginava que fosse um temporal. Fortes rajadas de vento, no sentido oposto à minha janela. Talvez isso tenha sido o mais assustador, pois ao mesmo tempo que ouvia o barulho de água se movimentando como uma grande onda lá fora, não via nada pela janela a não ser o clarão dos raios. Fechei os olhos com a coberta, desejando estar na minha outra casa. Talvez eu não tenha aprendido a morar sozinha ainda. Talvez eu nem aprenda. Talvez faça parte não aprender e superar todos os dias, tapando os buracos e pensando que algumas horas passam num instante.


Texto escrito em 22/04/2014
Alguns pontos de vista mudaram desde então.

Talvez eu tenha aprendido. Talvez eu esteja aprendendo. Mas sempre da maneira mais bonita possível.

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

sonho lúcido

me diluí em fumaça etérea
vagando pelo quarto
em direção ao universo
me misturei com as nebulosas
dancei contigo nos anéis de Saturno
nossos olhos se tornaram super novas
na vertigem de um sonho
surgiu uma nova constelação
dez mil explosões por segundo
no constante pulsar do coração
um prisma feito de instantes
amanheceu em um dia amante

quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Uma-coisa-leva-a-outra

Um sonho: ir embora para uma floresta, longe do tempo. Onde eu possa observar a lua sem me preocupar em acordar cedo no dia seguinte, ou contemplar o nascer do Sol sem me sentir previamente cansada pelo dia que vem. Longe da fumaça tóxica que os monstros de ferro exalam. Longe das futilidades ostentadas pelas ruas, sem contato com as atitudes e palavras desnecessárias que costumo ouvir por aí, por ali...
Em pleno contato com a natureza, natureza que sou. Sentir o vento passando, transformar-me no próprio vento a ponto de ventar sem limites.
(É isso, acho que preciso ventar.)
Ventar por entre o topo das árvores frondosas, balançar a percepção das nuvens brancas e acinzentadas em contraste com o céu azul. Ventar sobre os rios que correm sem pressa. Ventar debaixo das asas de um pássaro que voa livre, cortando o espaço aparentemente vazio.
Ventar para depois chover calmamente durante a madrugada. Chover de mansinho nos sonhos de quem veio no coração, nessa presença etérea. Enquanto isso, ouvirás o coração do céu trovoando canções sentimentais, sob a luz de um clarão intenso.
(Clarão que não saberei se veio do céu ou dos olhos.)

sábado, 6 de setembro de 2014

coragem tem a ver com coração
(coração
coragem)
amor nos leva a tomar atitudes
amor nos leva ao inimaginável
amor nos deixa fora de órbita
amor nos presenteia com infinitude

criou uma lar na minha alma
ocupou mais espaço do que eu pensava ter
cresceu mais do que eu esperava ser
floresceu com encantadora calma

amor que pintou estrelas no céu
amor que de sonhos meu mundo encheu
amor que de forma sublime em mim nasceu
amor que que veio suave por trás do véu

transparência

desabrochar de essências
sinceridade espontânea
confusão momentânea
flui com certa iminência

oxigênio

esses teus olhos oceânicos
são mares nos quais me afogo
doce sensação de estar sem ar
respirando amor ao te encontrar

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Voando

Me sinto exatamente no lugar onde queria estar. Na companhia de quem queria estar. Em todos os momentos que me encontro com essas pessoas incríveis, me sinto em casa. É um tal de um efeito mágico que se apodera do meu ser, transformando tudo em extremo lirismo. O instante é puro, cristalino e rarefeito. Ondas de vento sopram entre nossas almas, interligadas com a sensação de estar em paz.

- É a emoção de estar em pleno vôo. -

quinta-feira, 28 de agosto de 2014

energia transmutável

meu coração saiu pela boca
engoli de volta
estancou na aorta
trepidou incontrolável
fez meu corpo transcender
até o caminho que me leva a você
etérea presença
um abraço abstrato
amor contido em palavras
transmitido em olhares
cinco segundos
triangulações
lampejos
chove aqui dentro
são gotas de cristal
iluminam o espaço
momentos em que nada se sabe
nada se pretende saber
tudo É

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Não leia.

Eu me arrumei, você nem viu. Pretendia, mas não fluiu. Você se arrumou, eu vi. Observei de longe, como uma alma que paira entre os demais sem que percebam.
Tudo que faço, penso em você. Ridícula. Sou ridícula sim. Admito.
Sinto vontade em te deixar saber sobre minhas sentimentalidades... mas isso incluiria algo totalmente imprevisível. Pois se cogito a possibilidade de que irá gostar ou desconfiar, logo elas não serão mais possíveis. Serão imaginação.
Ah, o que fazer?
Tudo o que digo é tão subjetivo que nem mesmo você desconfiaria ao ler. Ou eu penso que não desconfia quando na verdade desconfia mas sem desconfiar, desconfiando que desconfia de algo não desconfiável.
Descobri que tentar ao máximo me assusta. (E não seria assustador alguém te dizer o quão incrível você é?)
E se?
E se eu pudesse simplesmente (simples e complexo ao mesmo tempo) dizer olhando nos teus olhos (e desviando um pouco também, talvez olhando para o céu) que sinto AMOR? O quão assustador é isso nesses dias "de hoje"? Você acreditaria se eu dissesse que mesmo tendo certeza de um sonoro NÃO, continuaria desejando a sua felicidade?
Creio que isso pareça um conto de fadas. Um filme. Uma novela, talvez.

Se eu pudesse transformar todos os seus dias em poesia, eu o faria. Se me permitisse, é claro. Mas isso tem sido possível apenas nos sonhos... E se a vida é sonho, meu sonho é uma realidade. (E a realidade é um sonho?)
Me fascina quando você se diverte. Me encanta de tal forma que eu conseguiria apenas demonstrar em desconcerto, gestos claros e olhar transparente.

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Sentimento

Sabe... o amor nasceu sem me deixar perceber. Tal qual uma flor que nasce entre arvores frondosas.
(Nem ouso mais nomear.)
Tão singelo que pude me dar conta apenas quando já estava totalmente mergulhada nesse encantamento. Jamais poderia imaginar que a partir de uma crescente admiração surgiria esse tal sentimento.
Me recordo de ter escrito, uma única vez, sobre o que chamo de "encontro armado pelo universo".. de ter detalhado o quanto me senti imergida naquela troca de energia. (Foi o dia em que um pedaço meu foi com você e um pedaço seu veio comigo.) Uma felicidade tímida e incompreendida tomou conta do meu ser.
A cada dia mais.
E mais.
E mais.
Nunca menos.
Fui entendendo o que significava desejar bem à uma pessoa de forma incondicional. Em um estalo, numa súbita tomada de consciência, percebi então que o sentimento havia crescido, impossível de ser medido, controlado ou desfeito. Era como magia: uma vez feita, jamais desfeita.
Cresceram flores no meu coração. De todas as cores. Regadas a palavras carinhosas, respeitosas e sinceras. Floresceram sorrindo, pois encontraram luz no caminho.
Quis negar a princípio, vislumbrei o céu e me questionei: estaria eu ficando definitivamente louca? (Enquanto isso o vento frio soprava, as árvores dançavam, o céu de gelo refletia estrelas e a lua estava distante. Lembro-me de um nó na garganta ao admitir.
Ainda tenho comigo a sensação de começar a tentar antes mesmo de saber que estava tentando. Meu subconsciente já sabia. Meu coração já sabia. Minha alma sente.


Quando seu olhar encontra com o meu, me sinto em casa. Sinto que poderia ficar ali, sem pensar em mais nada, apenas sentindo.

terça-feira, 19 de agosto de 2014

Deixe a máscara cair.

É muito fácil usar palavras frias para dizer que não se importa com o corpo alheio fora do padrão. Mais fácil ainda dizer que não irá julgar, quando isso já está programado para ser feito no nosso núcleo de conceitos. E como é difícil quebrar esse núcleo e adicionar as informações periféricas.
(Embora eu saiba que lá no fundo, nos pensamentos mais obscuramente escondidos, as pessoas pensam, julgam, invejam, criticam, desfazem. Ainda que sozinhas, com elas mesmas...)
Seria mais digno dizer: "Eu vou olhar e vou refletir a respeito, algumas coisas não irão me agradar, mas olha, não é por pura crueldade, é que cresci numa sociedade doente." Sociedade que está acostumada a procurar apenas defeitos, excluindo os que não se encaixam. Seria hipocrisia da minha parte pintar uma imagem de que não falo mal de ninguém e que simpatizo com todo mundo. (Aliás, nem simpática faço questão de ser.)
Prefiro a sinceridade. (Não confundir com grosseria desmedida.) É melhor do que tentar se adequar à um rótulo preconcebido. Sim, as pessoas criam expectativas em cima das outras, esperam que elas sejam isso ou aquilo, quando na verdade todos estamos em constante transformação.

Sufocante te pintarem como "uma pessoa roxa", quando na verdade você é uma pessoa furta-cor. E o mais incrível: as vezes a gente sente necessidade de cumprir essa expectativa, pretendendo não desagradar, deixando de lado a espontaneidade.

Deixe a máscara cair.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

Flores para Betty.

Obrigada Betty Buringa, por transformar minha vida na mais sublime poesia. Por dar vazão aos meus sentimentos contidos. Obrigada imensamente, Betty, por me aguçar a percepção e demorar mais na sensação, por me criar a coragem de olhar fundo nos olhos. É o momento em que me perco para conseguir me encontrar e me perder de novo nesse looping infinito.
E a crescente liberdade em expressar minha loucura? Deixando escapar toda a minha insanidade, com o coração na mão.
Coração.
Amor.
Sentir.
Sinto que estou voando entre as pessoas, sinto que há vida. Aprendi a  mergulhar profundamente em cada momento e extrair deles a mais profunda essência.
Pra ser bem sincera, eu nem vejo mais os dias passarem. Os caminhos se tornaram mais floridos, o céu mais encantador e a caminhada um voo.

Ah, sim! Obrigada pelas flores.

(P.s. Betty Buringa é minha versão palhaça.)

domingo, 17 de agosto de 2014

Loucura

(Parágrafo, travessão)

A loucura é abrangente
Afeta involuntariamente
Com uma lucidez criativa

(Pausa, exclamação)

Impossível de ser medida
Descompassa o coração
Sem ordem nem solução

(Vírgula)

Um desespero contente
Há intuito complacente
Sem explicação de ser

(Reticências)

sábado, 2 de agosto de 2014

Delírio cotidiano

Olhos que liberam raios cósmicos e me fuzilam com um clarão. Confesso que eu adoro morrer assim, petrificada por esse encantamento. Me transformo em água, vazo pelo chão, evaporo e viro nuvem que ameaça chover pela noite.
Transmutação para reviver ao amanhecer de um sorriso. Sentindo que a vida vale ser vivida, pois há a essência da sua presença costurada à minha, de forma oculta, tímida e subjetiva. Tal qual um sonho lúcido, no qual posso escolher a opção: jamais sofrer de ausências. 

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Carta nunca enviada I

Olha, não precisava de muito. Só queria olhar nos teus olhos por um tempo indeterminado até que tudo se tornasse atemporal. E que o dia fosse assim, sem ponto final.
Imagina só, minha alma dançando com a sua através das nossas pupilas magneticamente conectadas. Muitas vezes faço uma força sobrenatural pra desgrudar dos teus olhos.
Um chá e uma curiosidade: foi motivo pra que você chegasse perto. Bem perto. E eu, coitada de mim, fiquei sem ar...

- E não sabia realmente o que fazer -

Pensei em abrir espaço pra você, mas vi que não havia como. Sua aura encostava na minha, embora nossa pele não encostasse. Seus olhos um pouco mais altos que os meus, olhavam de cima mas aparentavam olhar por dentro. Me senti vulnerável. Respirei o ar que você deixou escapar enquanto proferia aquelas palavras, das quais nem lembro o significado, pois estava hipnotizada com a repentina proximidade. Foi aí então que fiquei inebriada, penso que até a cor do ambiente mudou naqueles poucos segundos que me foram eternos; estão  vivos aqui na minha memória. Então, inevitavelmente você se afastou, pois já não havia mais o assunto prendendo a atenção. Falei alguma coisa ou outra sem sentido pra que seus olhos continuassem ligados aos meus, funcionou por um curto espaço de tempo.
Posso dizer com segurança que levei um pedacinho de você comigo e que você levou um pedaço de mim contigo, ainda que não saibas, ainda que de maneira inconsciente. É, você nem sabe mesmo, mas acabou emitindo partículas de luz que atravessaram o meu ser. E eu? Emiti luz também, várias partículas que se adicionaram as suas e fizeram daquele lugar o mais colorido de todos, embora todas as paredes fossem brancas e o chão preto.

cativar

dia nublado
tudo sintonizado
sentimentos cativados
jamais calculados
lágrimas vem e sorrisos se vão
em vão?
claro que não!
lado a lado
porém separados
tentamos encontrar a solução

fito a arvore dançar pelo vento
ou será que é o vento dançando pela árvore?

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Explodindo para dentro.

De um tempo pra cá... De um grande espaço de tempo pra cá, minhas explosões são todas para dentro. A cada estrondo, um buraco na alma, um feixe de luz pelos olhos. É claro que, com tanto estrago interior, a dor aumenta significativamente.
Cada palavra não dita se instala permanentemente na garganta, criando aquele nó que trava sorrateiramente minha respiração. E então o que fazer? Quando percebo já estou sozinha de novo. Tão só que nem mesmo as batidas do coração são capazes de me animar.
E aquele julgamento, aquela questão rodopiando na cabeça: "E se eu tivesse olhado?" "E se eu tivesse dito" "E se eu demonstrasse claramente?"
Um ferimento sem sutura imediata, sentimento profundo de inexistência. Chove aqui dentro de mim. Há uma goteira nos meus olhos.
Aprendi a sufocar minhas explosões devido ao estrago que já causaram aos outros e resolvi que o único alvo seria eu mesma. Estou presa e não vejo as grades. Há quem diga que na verdade não é assim. Porém, me encontro agora na companhia de absolutamente ninguém. Não há a gata miando e pulando no meu colo. Não há a mãe reclamando da vida. Ninguém vai aparecer para me oferecer um abraço e deixar que eu evapore pouco a pouco. É isso, estou evaporando. Cada partícula se esvai. Vai para o além, atravessam o coração de outro alguém, que ninguém sabe quem, mas eu sei bem.
Devo ainda acrescentar que embora minhas lamentações sejam a respeito do todo, tudo, cedo ou tarde, acaba me levando a você, involuntariamente, de maneira engenhosa e silenciosa, causando aquela saudade do tamanho de todas as galáxias que existiram, existem e pretendem existir. Como é possível sentir saudade após um segundo?

(Nos meus delírios mais presentes e plenos, nunca solto a sua mão.)

domingo, 20 de julho de 2014

Desestruturar

A forma como as coisas estão e são mudam devido a influências mínimas. Isso acaba nos impedindo de formar novas estruturas para dialogar com o novo, pois enquanto estamos nos adaptando surge outra mudança, e outra e outra e outra e temos que nos adaptar quase que instantaneamente, caso contrário perdemos o fio da meada e ficamos para trás.
Esse é o maior medo: ficar para trás, perder oportunidade, ser inferior.
O conceito de inferioridade na pós-modernidade ou modernidade líquida é não seguir os padrões impostos e disseminados pela população. Não há uma única pessoa que cria os modelos a serem seguidos, mas todo um conjunto que concorda com aquela proposta e dentro desse aglomerado estamos eu, você, nós. Ninguém está alheio às responsabilidades.

Pensamentos feitos a partir de Bauman e sua teoria da Vida Líquida.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Inspirar

Guardo a sensação da sua presença no âmago do meu ser. Quando trocamos algumas palavras pessoalmente, presto mais atenção em como você as diz do que no próprio assunto. Sua voz ressoa na minha memória turva.
É, a vida fez uma curva que ultrapassou a velocidade da luz e me arremessou pra fora da órbita. Como eu haveria de imaginar tal sentimento? Poderia eu disfarçar tão bem assim? Será que é sonho? Será que é loucura?

Eu não sei.
Sei que continuo gritando sem som. Grito em forma de palavras escritas. Grito em cores no papel. Grito enquanto danço. Grito com os olhos. Grito silenciosamente, porque quando falo, sussurro, e quando sussurro, respiro, e quando respiro, suspiro e quando suspiro... me inspiro.

sábado, 5 de julho de 2014

Fabuloso mundo da imaginação

Promete?
Prometo.
Além do mais, te digo uma coisa: lavarei a louça pra você nos dias frios. Quando, por ventura, você adoecer, eu ficarei ao seu lado até que melhore, ainda que isso me traga prejuízos em outros âmbitos. Deixarei você dormir mais um pouquinho enquanto a luz da manhã aquece a cama. Talvez você acorde ao me ouvir cantar lá da cozinha enquanto o aroma do café dança pela sala. Vou entender quando você ficar brava. Ficarei brava também e isso não será motivo para que o respeito desapareça.
Te levarei flores no final do dia quando você chegar cansada. Contarei uma piada idiota, pra que você ria da minha cara e assim alivie qualquer estresse que tenha acumulado aí dentro. Deixarei você se apoiar nos meus ombros quantas vezes forem necessárias e meus olhos vão traduzir amor ao descansarem sobre os teus.

Das minhas imaginações e delírios mais profundos, confesso que ao cozinhar todos os dias, te fisicalizo no outro lado da mesa. Sim, sim, sim. Como você não está, sobra almoço pro dia seguinte. E sou tão idiota que chego a dançar pela sala. Cantar pelo campo. Ando até enfeitando a segunda-feira com nuvens coloridas.

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Lua e Vênus

Uma história de amor platônico, feito apenas de olhares misteriosos que significam infinidades.
O olhar de Vênus atravessa as o corpo da Lua.
Vênus decidida. Lua perdida. As vezes invertem os sentidos. Subvertem informações. Lua principalmente, com sua vida de fases, gosta de se esconder na penumbra de quando em quando. Vênus, ao contrário, emerge assim que o o sol se esconde, reluzente no céu, ofuscando qualquer outra estrela que ouse cruzar seu caminho. Ao amanhecer é a última a desaparecer no horizonte (...)

Continua.

sábado, 21 de junho de 2014

Efemeridade.

Leiam isto: suas crianças não são mini adultos esperando ser alguém. Já são alguém. São criaturas com incrível capacidade criativa, potencial de desenvolvimento ímpar. Não sufoque o sonho delas. Não corte suas asas. Não, por favor, não formate seu pensamento. Deixe que elas façam escolhas, que se expressem nas artes. Deixe que as crianças te ensinem, pois elas, apesar da curta vida de experiências, sabem de segredos que nós, adultos, esquecemos ao crescer.
Elas transformam seu mundo a partir da imaginação. Ofereçam boas influências, bem como: alimentação mais orgânica possível, simplicidade, apreço pela natureza, amor pelos animais, respeito pelo outro, valorização pelo que é e não pelo que se tem, pois o que se tem é muito instável e uma hora ou outra vai desaparecer.
A vida é efêmera. Se formos parar pra prestar atenção no futuro, vamos apenas existir, apenas sobreviver. Jamais ensine alguém a se preocupar com o futuro, por mais insano que isso possa parecer agora, nesse período de modernidade líquida onde tudo é instantâneo e vazio. O momento presente dará a chave para a plenitude, uma sucessão de acontecimentos. O controle das situações é apenas uma ilusão e é por isso que nos encontramos tão frustrados as vezes. Só temos o agora.
Esqueça o remorso pelo que não deu certo e a ansiedade de tentar acertar, apenas se concentre no devir, a transformação constante. Lembre-se que você é uma criança grande e que ainda pode retomar a magia de dar vida ao inimaginável.

terça-feira, 17 de junho de 2014

- delírio consciente -

o infinito azul do céu
traz a lembrança por trás do véu

energia das pupilas que atravessam a alma
vem dançando no vento a sintonia da calma

palavras silenciosas ecoam no coração
provocam telepatias preenchidas de emoção

há flores invisíveis pelo espaço
colorindo o anseio de um abraço

são sinais escondidos no tempo
que vão dançando com o vento

tua presença se inventa ao meu lado
nesse sonho de um universo encantado

Por que a gente ri?

As vezes rimos porque achamos graça
Ou porque ficamos sem graça.
Rimos porque não entendemos.
E porque queremos fugir.
Rimos de nós mesmos.
Rimos e sorrimos.
Rimas.
Rimos junto com aqueles que nos cativam.
Com algum ou nenhum pretexto.
Sorrimos uns para os outros.
Até porque é preciso.
Rimos com sentimento.
Risos.

domingo, 15 de junho de 2014

Uma coisa leva a outra.

Vejo os outros passarem pela janela. Janela está que são os olhos. Olhos: portal enigmático que leva ao além. Além disso, sinto que há algo mais escondido sob os véu invisível da curiosidade. É curioso o fato de que usamos uma armadura para lidar com os outros no cotidiano. Os acontecimentos do dia-a-dia nos fazem ser o que não somos com o objetivo de agradar outros seres. Ser ou não ser, eis a velha questão que atravessa o tempo; cravado na ilusão do relógio ou estampado nas nuances coloridas do céu que vejo.

Solidão contemplativa .

sob o céu azul de nuvens místicas
a grama verde reluzia na luz solar
amarelo, laranja, lilás e vermelho
invisível, pude ver o tempo passar

feixes de luz estendidos na horizontal
misturando-se na minha alma confusa
acompanhada pela imensidão surreal
lá se esvai num amarelo-azul-laranjado

(o pôr-do-sol é mais bonito quando a única câmera fotográfica são os próprios olhos.)

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Pratonismo amoroso.

É muita utopia sonhar em encontrar amor? Esse sonho de querer viver um romance. Mas um romance encantado, um romance impossível. Desses que vivemos somente em nossa secreta e fértil imaginação. Um platonismo impregnado de certa ingenuidade, que aflora em consonância com o entorpecimento.
Tento me desvencilhar desse tal pensamento viciante, busco auxílio na distração, clamando por dispersão. Porém até mesmo nesses momentos sinto aqueles olhos atravessando minha alma. E o universo conspira para que inesquecível lembrança dos momentos não vividos venham a tona. O estopim para despertar todo o delírio novamente é dado por sinais encontrados no chão, num pedaço de papel ou em uma música inesperada.
Amor com teor esvoaçante.
Acontecimentos etéreos em situações de seriedade. O impulso incontrolável em desfrutar cada segundo antes que termine o dia. E nem vejo o tempo passar, justamente porque o tempo deixa de existir. Quando pronuncia o meu nome é como se conjurasse um encantamento.
Repito continuamente pare-de-pensar-nessas-coisas-impossíveis. E adianta? Adianta nada. Quando tomo consciência já estou embriagada por tal presença onírica.

E se eu fosse direta, seria risível.

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Preciso precisamente de precisão.

Me irrito profundamente quando não acerto os movimentos da dança. Quando vejo que fiz tudo errado e que até um boneco de posto faria melhor. Graça? Leveza? Elegância? Pulei essa fase, pelo visto.
Ah, eu fervo por dentro. Minha vontade é sair gritando, quebrar alguma coisa e dar um tapa na minha própria cara. Mas há alguns anos venho contendo essa explosão. Respiro, canalizo, simplifico. Por dentro estou lutando contra mim mesma, por fora estou neutralizando as energias. Energias essas que são potencialmente destrutivas. Ou construtivas. Whatever.
Como é difícil ser precisa. Quando me olho no espelho, vejo que fiz tudo errado e que estou toda torta. (Eu sei que tá uma bosta.) Não consigo pegar a sequência. Como se apinham essas informações! Todo mundo faz bonitinho, mas eu fico lá perdida entre os anéis de Saturno. Juro que presto atenção. O que há de errado comigo? Qual é o defeito que impede esse corpo de ser preciso? Alguma trava psicológica? Eu não sei. Gritei sem som.
Gritei sem som inúmeras vezes nessa minha vida. Continuo gritando. Ninguém me ajuda. Ou é por estar gritando sem som que ninguém me ajuda? Eu não sei. Eu realmente não sei.
Tem gente que vai tão leve. Eu continuo de fraque.
Me sinto divida em duas pessoas: uma que faz e outra que observa. E ainda há uma terceira: a que julga. E julga sem piedade.
A raiva contida as vezes me faz realizar os movimentos de forma mais fluente. Quando estou livre para me mover como quero, então flui. Flui até o momento que percebo estar sendo ridícula. Aí fica tudo mecânico.
MEU ZEUS!
Em casa sai tudo fluente, magnífico, preenchido! Diante os olhares alheios eu me perco, faço movimentos mecânicos com medo de errar. Com medo de ser feio. As vezes não. As vezes me liberto. Principalmente de olhos fechados.
Na adolescência eu me lembro de querer me encaixar em algum lugar. Me faltava aquele sentimento de pertencer. E hoje eu revivo essa vontade anexada à vontade de me encaixar em mim mesma.
Sou um desequilíbrio que se equilibra na corda bamba feita de éter.

Me falta a precisão. Onde encontro a precisão? Pra qual universo ela fugiu? Será que é loucura?
Ela se foi.
Para uma excursão em companhia de absolutamente ninguém.
Para as montanhas, aonde mais?

domingo, 18 de maio de 2014

Turbilhão

Sabe o que eu acho?
Eu acho que tem horas que a gente pensa: "meu deus, o que mais agora?" Tem horas que a gente acredita não suportar mais. Então é aí que se esconde nossa força. - Respiro fundo, olho para as nuvens, correndo tranquilas no céu, se desmanchando e mesmo assim continuando a existir. -
Talvez seja questão de respirar e alterar os estados emocionais. São tantas obrigações costuradas ao tempo. Ao curto tempo.
- Sinto medo -
Aquele costumeiro turbilhão de sentimentos rodopia em todas as direções; abre fendas, rasga o peito, traz o mar pra dentro dos olhos.
Tem que ser assim? Uma espera sem fim. Todos os dias o universo recebe infinidades de pedidos. Há um deles que sempre se repete.
- Lembro de alguém. Sempre a mesma pessoa, sem querer, espontaneamente -
Milhares de olhos voltados para as estrelas tentam decifrar o que há por trás do mistério da vida, sem saber, sem sequer desconfiar que não há resposta.
- Me acalmo. Canalizo. Espero. -

terça-feira, 13 de maio de 2014

brisa

inebria
quando a luz da lua entontece
arrepia
enquanto o universo acontece

um milhão de palavras silenciosas dançam, patinam e escorregam na alma.

sentia
infinito momento de sutileza
desaparecia
ao ser encantada com leveza

numa brisa efêmera, tal qual a vida, sentimentos brotam feito flor.

o vento ventou sem ter ventado, o vento ventou e criou um vão no espaço e tempo.

caí
levantei
voei

um vento que venta sem mexer as folhas das árvores...
mas, ah!
como dançam as folhas aqui dentro.

sábado, 3 de maio de 2014

O mistério rima com ção.

E se eu te revelasse o mistério?
Seriam meus sonhos todos transformados em uma incessante saudade do que nunca se foi?
Se eu fosse direta, você me rejeitaria.
Então sou indireta, subjetiva e traço minhas confissões em versinhos de poesia. Ou em textos sem fundamento.
Qualquer coisa que aconteça, qualquer olhar, palavra ou ação me despertam o devaneio de imaginar que entre nós existe alguma coisa além de uma quase amizade.
Estou sempre consciente dos meus delírios que subvertem a realidade turva em ilusão dourada. Se por acaso emerge o imenso sentimento sob meus olhos que detestam mentir, tento esconder meu desconcerto. Nunca sei se você percebe que fico sem graça.
Imagino que não.
Acho que ficaria com pena da minha pobre situação deplorável em amar platonicamente alguém. É quase como cair no buraco da Alice, porém eternamente caindo, sem sombra de galhos onde eu possa me agarrar.
Sinceramente, eu poderia te contar tudo que fiz e ainda faço. Mas guardo comigo a temerosa sensação que logo após eu ter terminado de contar como tudo isso aconteceu, e como eu fui perceber depois de ter acontecido, que você irá me olhar com piedade e dizer algo como: "Obrigada. É bonito. Não tenho curiosidade. Fique bem. Adeus."

Daí então que procrastino esse momento, me contorço numa raiva melancólica quando sei que está a encontrar outras pessoas. Juro pra mim mesma que irei superar, irei esquecer, irei entender. E então, quando te vejo cruzar meu caminho mais uma vez, esqueço de tudo isso e me dou ao luxo inconsciente de viver o momento presente e ser brevemente contente.

sexta-feira, 25 de abril de 2014

platônica anônima

a tua bela existência
despertou a quintessência
já não posso desvencilhar
o sentimento que me fez brotar

do céu azul crio ilusões
as flores do campo suscitam emoções
o vento teima em fazer recordar
esse etéreo infinito do amar

quem me dera ser agora
a pessoa que te espera lá fora
mas sou a criatura dessa vida irônica
que ama de forma ingenuamente platônica

quarta-feira, 16 de abril de 2014

Namastê.

Alegria.
Amor.
Ódio.
Ansiedade.
Tranquilidade.
Tristeza.

Alegria pela sua existência. Pelo universo ter lhe colocado no meu caminho. Amor, todas as vezes que penso em ti, todas as vezes que a luz dos nossos olhos se cruzam. Quando sei que você sabe sobre meus pensamentos, e quando penso que sei sobre os seus, nessa misteriosa sintonia.
Ódio quando eu queria ter dito, quando eu queria ter feito, mas não disse e não fiz. Por conta de uma trava que me bloqueia a expressão sentimental. Ansiedade em querer retomar o momento anterior e esperando que o próximo chegue. Ansiedade porque não gosto de feriados, eles afastam sua presença, inserem hiatos nas possibilidades de encontro ao acaso. Tranquilidade, pois, como diria um ditado indiano: todas as situações da nossa vida são perfeitas, tudo o que aconteceu era tudo que poderia ter acontecido. Em alguns momentos todos essas emoções se misturam, são colocadas dentro do liquidificador, batem terrivelmente rápido dentro da minha cabeça, choro então porque elas se chocam, e isso acaba provocando a dor da tristeza.
Mas depois elas se reintegram em um novo núcleo de equilíbrio, reconfiguradas pela crise. O que não serve é apagado.

Em uma distração breve:

Vejo a borboleta amarela voar sobre as arvores, e penso que, eu queria ser uma borboleta. Sim. Ainda que meu voo fosse de apenas um dia. Eu trocaria minha vida de espera por um dia de infinitude.
Todas as estrelas que brilham no céu, brilham por você.
Brilham porque refletem seu olhar.
O vento só acaricia meus sentidos porque também venta em ti, ainda que entre nós exista alguns metros ou quilômetros. A chuva só se tornou poética quando eu soube que ela encantava seu espírito.
A vida se tornou mais colorida. Uma admiração profunda pela sua paz interior, e também pelos seus momentos de mudança no humor. Pela sua vontade de mudar o mundo, começando por você mesma e por quem está ao seu redor. Pela sua força de colocar as ideias em prática. Pela sua forma de absorver conhecimento e ser capaz de transmiti-lo com tanta riqueza.

Tudo o que posso dizer ao final de tudo isso é um sincero e silencioso: NAMASTÊ.

terça-feira, 15 de abril de 2014

O avesso do lado de dentro.

De dentro, para dentro, do avesso ao lado de dentro.
Queria conseguir verbalizar todas as formas e imagens que se formam no meu pensamento. (O nó se instala na garganta. Os óculos embaçam.)
Do fundo do coração, queria dizer o que sinto. E quando sinto. Mas jamais explicar o porquê sinto. Acontece que existe uma trava entre as palavras que se formam no meu interior e a ação de expurga-las em idéias verbais (daquelas que façam um mínimo de sentido e conexão com o contexto.) Já faz tanto tempo que calei, nessa vida pra dentro, nesse amontoado de pensamentos barulhentos, que ora não me deixam dormir, ora me tiram do momento presente e me arrastam para outro mundo. Mundo este que conheço tão bem, mas que gostaria de transpor suas cores para o exterior.
Dói.
Profundamente. Daquelas dores de arrasar qualquer um.
Esse incomodo em querer estar aí fora como todos estão (e dizer todos já é um engano, nem todos estão), essa vontade de querer ser parte de algo e estar aparte de tudo. Sinto que estou na tangente, perambulando pelas bordas da minha existência. Ás vezes encontro um precipício, é quase como o fim do caminho; me agarro com toda a força em um galho de árvore, tentando evitar a queda. É claro, as vezes esse galho quebra, eu caio, causando desconforto no território alheio. E dói novamente, porque não sei explicar como isso aconteceu, sendo que tinha certeza de ter me agarrado no galho certo.
Para todo túnel existe uma luz. São raras as vezes que encontro essa iluminação tão branda no campo das minhas idéias: me expresso dentro do contexto, respondo, afirmo, duvido e pondero. Logo mais, há uma pausa que me obriga a filosofar internamente sobre o fato ocorrido, e pronto, estou lá de novo: do lado de dentro.
Uma sensação que é ridícula, um medo inexplicável, uma falta de jeito pra lidar com as interações sociais. Um comportamento bobo, de não saber o que e quando dizer, ou fazer.
Reprisando o passado, vejo que nunca aprendi. E se fosse esperar que me ensinassem, estaria condenada a escuridão total. Então, em meio a tanta confusão, criei meu modo de lidar. Ainda que não seja um modo padronizado de convivência, é autêntico. Ainda que eu não consiga expressa-lo em muitas situações na vida, não desisto de tentar.
Fico me questionando, enquanto ando pela rua escura e pouco movimentada, se há muitas outras pessoas que se sentem assim.
Assim. Exatamente assim: com vontade de abraçar e não ter coragem, com vontade de dizer "eu me importo" e não conseguir, por conta de um medo insólito. Essa "ação interior" que jamais se exterioriza. Essa vontade constate de puxar um assunto, pedir desculpas, perguntar se está tudo bem, saber qual foi o mal entendido. Saber se eu magoei, mesmo que eu não tenha tido a intenção. Mas a vontade sem a coragem já é uma lástima.
Creio que, agora, é questão de, no sentido mais figurativo da palavra: quebrar a cara. Chutar o balde.

Há dias em que não estamos bem. Nesses dias sinto vontade de sumir, embora isso seja um imenso clichê da crise existencial que todos nós provamos vez ou outra na vida. Largar tudo, correr pro meio da floresta, viver plenamente com um animal. Animal que sou. O mundo está sendo enterrado vivo, me sinto impotente. Tenho vontade de chorar o dia todo quando vejo uma árvore sendo derrubada. Minha alma se estilhaça ao ver a apatia no olhar opaco de quem passa por um ser e o despreza. É nesse momento, de estarrecimento e perplexidade diante esse sistema podre que adulamos, que me faltam até as palavras escritas.

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Memória.



Hoje pude ver suas linhas de expressão, bem embaixo do olho esquerdo, pois você estava de perfil. Acredito que no olho direito também existam algumas, tão sutis quanto no outro.
Transmitiu paz com o olhar, como de costume, cativando meus sentidos. O abraço de alguns segundos é eterno, inegavelmente atemporal.
Sensações que ficam ao te ver partir. Sensações que levo quando estou partindo.
A voz é de um encantamento capaz de entorpecer. O sorriso se esboçando no canto da boca contagia. Então sorrio; às vezes por fora, às vezes por dentro, às vezes sorrio com a alma, ou com a junção disso tudo.
Magia é o momento em que sua presença encontra-se no mesmo espaço em que estou. Ainda que não esteja presente fisicamente, imagino e, logo em seguida, sinto a sua respiração através do vento calmo que entra pela janela entreaberta.
O universo conspira a favor dos delírios meus.

domingo, 30 de março de 2014

Pisciana. Ascendente: leão. Lua: gêmeos.

Pisciana com ascendente em leão e lua em gêmeos: sou a própria confusão em pessoa, uma tripolar.
Tô indo por aqui, então resolvo ir por ali. Tô pronta pra sair, desisto. Tô deitada, mudo de ideia e vou pedalar. Posso estar acabada, mas isso não pode afetar meu cabelo. Mania de ser mandona. Me transformo em chorona. Minha coragem faz parte de uma sentimentalidade sem fim. Sou um devaneio, geralmente me encontro brisando, olhando pro céu, pro horizonte, pra dentro de mim. Outras vezes me pego observando as pessoas, seus gestos, suas ações, seus trejeitos, se o corpo condiz com o discurso ou desvendando os estados emocionais.
A curiosidade me impulsiona a desvendar os mistérios da vida, do outro, de mim mesma. Luto contra a tentação de exaltar meu ego, tento me manter no momento presente. Ora sou eu mesma, ora sou um personagem. Me pergunto olhando no espelho: tem como ser eu mesma sem acabar sendo internada num hospício? Até que tem. Mas daí eu seria um turbilhão do amor, iria abraçar todo mundo, rasgar seda, desenhar coração no ar, então me chamariam até de falsa e superficial.
O silêncio continuaria fazendo parte de mim, mas eu diria minhas abobrinhas para que todos pudessem ouvir, ao invés de confessa-las quase que em segredo para pessoas mais chegadas.
Não gosto de me sentir presa a nada. Sou boba. Também sou esperta. Consigo me adaptar facilmente, tenho meu lado ultra versátil e meu lado perfeccionista grita. Me sinto perturbada quando todas as pessoas falam de uma só vez, sofro de vertigem em meio a multidão.
Tenho espírito de tia: gosto de um piquenique, companhias carregadas de energia positiva, um chá, café, bolo, incensos e música. Claro, também sinto raiva e vontade beber álcool, sou bem humana. Mas quando sinto a negatividade, estou consciente de estar sentindo e sei que é preciso transmutar esse tipo de energia. Respiro, canalizo e realizo.
Amo tanto que me sinto encabulada de amar. Amo de maneira ridícula. Sou romântica incurável, escrevo poesias, faço desenhos, crio mistérios. Agradeço e peço ajuda ao universo, que nunca falha.

Me imagino atemporal, viajando através do espaço, com a sensação de estar conversando telepaticamente.

terça-feira, 18 de março de 2014

efêmera

a vida é tão efêmera
não quero controlar
querem me programar
mas não conseguirão

prefiro a leveza
sutileza do devir
assim deixarei fluir
este viés emaranhado

ainda mudarei de humor
não edificarei planos
atravessarei os anos
em um filtro atemporal

domingo, 16 de março de 2014

na janela

é isso, cresci torta
com o cérebro na aorta
eu quis sumir pra dentro de mim.

desalinhei, perdi a hora
acabei vivendo o agora
eu desapareci dentro do momento.

distraída, encontrei
e lentamente intensifiquei
eu estou encantada pelo devir.

fui eu? perdão
deixei falar meu coração
eu fui levada pela intuição.

quinta-feira, 13 de março de 2014

céu onírico


ao longo da estrada
luzes liberam energia
em súbita rajada
adentram ao oásis de estrelas

nuvens densas e intencionadas
escondem a lua atrás de seu véu
esvoaçam lentamente sua jornada
pela silenciosa linha do sonho

quarta-feira, 12 de março de 2014

sinapse etérea

hoje o amor passou pela espinha
o amor pela espinha passou hoje
rodopiou intensamente pela coluna
intensamente pela coluna rodopiou

um forte vento emocional
me pôs suspensa no ar
criando a vontade de correr
ao encontro desse mar

flores de várias cores inebriam os olhos, são flores que atravessam a alma.
flores que sorriem para a chuva, liberam suas pétalas ao vento, reluzem vibrantes sob o sol.
flor que brotou nos olhos de quem viu, e agora ocupa o lugar das pupilas.

sábado, 1 de março de 2014

Agora

Sou humana, não sou gênero. Sou humana, não sou uma folha em branco onde podem escrever todas as regras e imprimir todos os padrões de comportamento. Transpareço, sem querer, todo o interior sentimental que pulsa. Me sinto esquisita, assim como tantas outras pessoas, que se perguntam o tempo todo: tem algo errado comigo? Estão todos me olhando? Deveria agir de outra maneira?
As vezes sorrimos para não desapontar outras pessoas. Por que? Elas não iriam querer saber sobre nossos problemas; diriam que sim, que podemos desabafar, mas no fundo, mal podem esperar pela hora da partida. O futuro, terreno infértil, é o que agrada a maioria. Esse distanciamento, quase que doentio, da vida que só se faz no momento presente.
É melhor ESTAR do que TER.
A plenitude se realiza quando estou com. Quando estou em. Quando estou para. Quando apenas tenho, não sou. Não somos. Haverá o dia em que olharemos profundamente nos olhos de quem nos cruza nosso caminho pelas ruas da cidade (e da vida), iremos sorrir (não só com os dentes), iremos cantar (mesmo quando estivermos andando sozinhos por aí) e talvez até voltemos a plantar árvores e flores. Sim, voltaremos.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quero que você seja feliz.

Quero que você veja muita estrela cadente. Que todos os seus momentos sejam belos como um sonho. Que o chás que você tanto gosta tenham um sabor novo a cada dia.
Vão nascer uma centena de camélias no seu quintal.
Quero que a chuva seja anunciada numa calma brisa, que vai acariciar seus cabelos e vai te trazer plenitude. Os pingos de chuva no telhado vão cantar a melodia, sentirás vontade de dançar.
Quero que a lua cheia ilumine a janela do teu quarto. Que o primeiro raio de sol, tão suave e onírico, atravesse a cortina e te faça um carinho. Irá sorrir dormindo.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

respondendo leminski

leminski diria: repara bem no que não digo
leminski, te respondo:
repara bem no que escrevo
repara bem no meu ridículo
repara bem no meu olhar
repara bem
quando te vejo
até ando meio sem jeito
falo de trivialidades
mascarando sentimentalidades
repara bem no meu sentir
repara bem no infinito
misteriosamente bonito
repara bem
no barulho que a chuva faz
no momento em que cai
trepidando no telhado
traz um som de poesia
ao silêncio encantado