quarta-feira, 19 de maio de 2010

O outro lado.

É tão engraçado como a morte chega. Como ela leva, sem cerimônias.Eu entendo a morte. Ninguém entende essa 'senhora velha' mas eu entendo. Dizem que ela é cruel mas eu acho que não é não. Porque ela leva pra um lugar melhor e eu acho que quem leva os outros pra um lugar melhor é bom, e não cruel. Sei lidar com a morte. Não desespero, não me culpo. Talvez esses dias sem ter tido tempo de ir ver meu vô tenham sido de preparação, pra um desapego mais leve, talvez algo maior estivesse me preparando. Eu lembro ainda da ultima vez que vi ele, eu usava meia-calça vermelha e fiz um sinal de 'beleza' pra ele, como ele sempre fazia pra mim. Minha mãe disse que ele morreu sem sofrimento. Disse que ele foi sentindo uma dorzinha, uma fraquezinha, disse dois 'ai...ai...' e dormiu. Ela disse que ele não tinha expressão de sofrimento no rosto, pelo contrário, ele tinha expressão de ALÍVIO, FELICIDADE, como se tivesse encontrado uma paz muito grande, como se tivesse visto alguém que amasse e que não via a muito tempo. Sentiu aquele alívio de não ter mais dor ou falta de ar e de não precisar mais de cigarros e alcool.

Pois é, eu não freqüento velórios desde muito pequena, porque as imagens se fixam de tal forma na minha cabeça que parecem que foram gravadas a ferro. Não vão embora, não adianta as felicidades que se acumulem por cima, elas não vão embora. É um tormento. Por isso passei a evitar imagens fortes, tristes.

Também acho estranho as pessoas cultuarem um corpo sem vida. Ele nem sequer estava ali pra ouvir aqueles hinos e o pastor falando tudo aquilo, que como minha mãe disse, foi lindo. Ele já não precisava mais daquilo. Mas os humanos tem uns rituais que me assustam até. Então deixei-os com seus rituais. Estou calma. Só chorei ontem pela noite, tudo de uma vez só. Eu meio que consigo sentir a paz que ele encontrou olhando pro céu, que hoje estava branco, o dia inteiro foi branco, não cinza, branco mesmo. Eu sei que meu vô tá feliz, e isso me alegra. Seria egoísmo meu exigí-lo de volta. Que idéia! Tira-lo de um lugar bom pro qual ele foi pra devolvê-lo ao inferno. Ele sabia que ía embora, mesmo com medo e não querendo ir, sabia, e rezou. E me lembro que ele sempre recitava o versículo:

“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.” João 3.16

Ele acreditava nisso, tinha esperança nisso. Falava mesmo quando estava bêbado, desde que minha mãe era criancinha. E o pastor disse hoje, segundo minha mãe, que quem acredita nesse versículo encontrou o que procurava, ou seja, Deus. Que bom.

E o que eu digo pra voce, vô...

Que bom que eu te conheci, me sinto muito orgulhosa de ter feito parte da sua vida. Lembro de várias coisas, de quando eu era pequena e via você fazendo cigarro de palha, cuidando da horta, indo na padaria. Lembro de quando eu ía na padaria atrás de você e você me pagava uma sodinha. Lembro de quando minha mãe ía ao médico em maringá, e você me buscava na escola. Eu amava esses dias! Lembro daquela casa lá embaixo onde cresci, foram as épocas mais felizes da minha vida, onde um simples dia numa simples casa era fabuloso! Lembro da peteca caseira que você me fez e de como brinquei com ela. Lembro dos seus dias bêbados e o quanto eram engraçados. Lembro dos sorrisos, dos choros no efeito do alcool, das histórias, sempre as mesmas, que você repetia sempre. Das musiquinhas que cantava.E da gaita! Ah, a tal gaita que minha vó tanto detestava! E por mais que ela escondesse as suas, você ía sempre lá e comprava outra. Sempre que eu ouvia som de gaita lembrava de você. Eu nunca disse 'eu te amo' ou qualquer outra frase carinhosa, mas você sabia o quanto eu gosto de você, e não precisava falar. Lembro também de um fato que me entristece agora: Que você nunca chegou a ver o mar. Eu tinha prometido pra mim mesma que ía te mostrar o mar, mas não deu tempo. Mas parece que isso não o impedia de ser feliz ao seu modo, do seu jeito, mesmo que quisesse tantas outras coisas e sonhasse tanto. Lembro de quando você dizia: "Tá bom assim, tá bom essa casa, parece roça, né?". Lembro de você reclamando em

alemão, ligando a TV e indo lá pra fora, deixando ela ligada. Lembro dos coelhinhos de chocolate que você me dava na pascoa e de um carrinho de brinquedo, um fusca em miniatura que me deu no Natal. Sempre com essa barba enorme que não deixava ninguém cortar, com seus chapéus e seus semi-ternos. São tantas coisas que eu lembro e que vão me dar saudades sempre. Mas são tantas coisas que eu vivi que tenho que ficar feliz e não triste. Feliz de tê-las vivido. Eu choro e me dói enquanto escrevo isso, mas ó, ainda vamos nos ver por aí.

Obrigada.

terça-feira, 11 de maio de 2010

Um pouco sobre o que você não quer saber.


--> E não irá saber.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Muito boa noite, Sir.