quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Lista

Algumas poucas aflições emocionais poderiam ser elencadas em questões inquietas:

- E se você soubesse o que é sentir "isso"?
- Já sentiu como se respirasse espinhos ao invés de oxigênio?
- Sua garganta dói durante a noite enquanto tenta sufocar um grito?
- Você já sentiu como se estivesse caindo de um penhasco?
- E enquanto cai, sentiu como se colidisse com o chão frio várias vezes?
- Há um buraco no seu peito que está te engolindo de dentro pra fora?
- Sua bebida favorita é chá de ilusão com duas colheres de decepção?
- Você já pensou na possibilidade de desaparecer?
- Aliás, já pensou na simples possibilidade?
- Digo, já pensou em tentar? Já pensou em arriscar? Já pensou que talvez possa dar certo?
- Consegue sentir o tempo parar quando ocorre "a coisa"?
- Por acaso, assim, num desses insights, já tentou realmente tentar?
- Por que é que a gente tem tanto medo do ridículo?
- Se você pudesse ser uma estação do ano, qual seria?

alma de chuva


hoje eu acordei e percebi que eu não cabia mais dentro de mim
vi que a chuva caía lá fora, da mesma forma que cai aqui
caem meus olhos
cai meu coração
num instante sou água que reflete o céu em poças invisíveis
logo mais sou a própria nuvem refletida, densa, sempre caindo
ancorada numa flor
sem perspectiva de tempo
sei que meu destino é cair, atravessando os frágeis fios da vida
e por hora, arranhei a alma no arame farpado que costurei.
 
 

sábado, 14 de fevereiro de 2015

Ritmo

a água é persistente, corre quilômetros, sabe que encontrará um destino cedo ou tarde, sabe que haverá um lugar onde tudo se transformará.
o sol nasce e se põe todos os dias, oferece sua luz sem pedir nada em troca.
a terra, apesar de, continua a girar, embora carregue consigo algumas dores de tantas vidas.
o vento sopra leve, logo se transforma em tempestade, varrendo tudo o que encontra pela frente, deixando a visão turva e a alma inebriada.
a Lua, as vezes tímida, resolve aparecer por trás das nuvens, revelando segredos que as estrelas desconheciam até então.
e nós, seres humanos, fazemos o que?

Fundo do mar

Aos 13 anos Nina deixou de falar. Preferiu mergulhar no seu silêncio melódico. Sabia que muitas vezes as palavras eram ditas feito canivetes caindo do céu, rasgando o peito de quem ouve sem filtrar. Quis desaparecer tal qual a noite no início do dia, porém decidiu ficar.
Observou que as pessoas falam falam falam falam, respiram, falam e falam de novo. E no final não disseram nada. No final ficou tudo vazio. Percebeu então que a verdadeira essência estava nas entrelinhas, no não-dito, no inefável. Aquilo que deixou de estar, para ser.
- Ela sorriu com os olhos.
Sentou-se na janela e apenas por um momento vislumbrou seus sonhos nas estrelas radiantes. O momento seguinte foi preenchido por pura reflexão de outros fatos sentidos em dias anteriores. Sua memória era um filme feito com direito a trilha sonora.


(https://www.youtube.com/watch?v=kS9SUmAyKWM&list=RDzGDrN7j6esY&index=20)

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Etiqueta

Um universo inteiro que conspira,
acaricia o cotidiano com delicadeza
e entorpece com profunda beleza
o ar que filtra as emoções.

Nuvens invisíveis correm sobre nós,
tomando o formato dos nossos sonhos,
dançando no céu; suponho.

E as gotas? Ah! Caem amavelmente sobre a flor,
refletindo feixes de luz intensa.
Sintoma de infinitude. 

A vida sorri com alegria imensa,
e em vão, tenta disfarçar seu desconcerto.
Sabe que a jornada é intensa,
e agradece a cada instante.