sábado, 27 de dezembro de 2014

Açúcar

Chegando na padaria, Nina começou a encarar os doces um por um.

- O que deseja, senhorita?
Perguntou a moça atrás do balcão.

( Desejo o inalcançável, sempre. É quase como um hobby, uma mania, um toc. Quero sempre voar, acabar com esse show de crueldades que é o mundo. Desejo que talvez nunca se torne realidade. Ainda assim, espero ansiosamente em meu sono profundo, que as pessoas consigam perceber a existência de um céu além dos prédios. Aguardo paciente e silenciosamente o pedido de socorro que enviei ao universo naquela tarde quente de novembro, enquanto ouvia o som das árvores sendo cortadas. Gostaria de pedir pra adoçar o coração da pessoa que destruiu minha bicicleta pela segunda vez. E assim me acalmo desesperadamente, tentando criar uma espécie de blindagem contra palavras e atitudes proferidas sem nenhuma gota de piedade e bom senso. )

- Um sonho.

Até que ponto somos livres?


A gente depende do médico, a gente depende dos remédios, a gente depende do celular, a gente depende da comida que está nos mercados. E se os mercados fecharem a gente morre de fome porque não sabe plantar. E se não fabricarem nossa roupa, usaremos os trapos até que não seja mais possível vesti-los. E se a temperatura do planeta aumentar, decorrente da poluição que lhe enviamos, vamos, muito provavelmente, passar sede.
(Chove aqui dentro. São gotas de pensamento confuso, imerso em dilemas existenciais.)

Vida

Perspicaz.
Sagaz.
Audaciosa.
Graciosa.
Radiante.
Estonteante.

Lá vai ela, com a bagagem amarrada ao pensamento, leva apenas uma pequena garrafa de água na mão esquerda. O coração, petulante, insiste em quase querer sair pela boca, num súbito ataque de loucura histérica. Ao som da melodia entoada pelos pássaros e dos ruídos provocados pelo atrito entre motores e asfalto, o vento começa a soprar destoante: as árvores começam a dançar com seus longos braços, fazendo vibrar o troco, reverberando nas raízes. A terra treme, mas é um tremor sutil, quase imperceptível para sentidos empoeirados.
Os olhos, atentos ao menor movimento, refletem a luz do entardecer. Aos poucos, as pupilas dilatam-se e passam a embriagar-se com a magnitude da influência lunar.
As estrelas vão desaparecendo conforme as cortinas se fecham. Num ritmo lento e amável, o céu cede lugar para o sonho profundo.



Mar de emoções

Importo-me.
Recluso-me a sair.
Lá fora está cheio de egos inflados. Todos densos de vazio. Falta espaço para florescer.
Amabilidade, sensibilidade e afetividade foram banidas total ou parcialmente dos encontros.
Num mundo onde é feio demonstrar carinho e transbordar amor: derreto e viro água, escorrendo conforme a inclinação da colina chamada vida. E se, por insistência, resolvo nadar contra a correnteza; logo me vejo mais transparente e perfurada que um tule.

Pensar

- E aí, como é que vai a vida?

(Ah, a vida vai. Eu é que não consigo acompanha-la. Às vezes eu paro e descanso. Logo mais pego um atalho e continuo indo com a vida. Perco um tanto de detalhes rasos e em compensação ganho em profundidade de acontecimentos.
Nos caminhos mais hostis, encontro-me de coração perfurado, tal qual um tule, porém mantenho-me íntegra. O momento da calmaria as vezes chega no final da tarde, quando as máquinas são silenciadas e então, com um pouco de imaginação, é possível ouvir o Sol se despedir.)

- Vai indo. E a tua?

promessa


perder-se
encontra-se
diluir-se
até que o ponto seja reticência
até que tudo seja essência.

não entender
perder o interesse em controlar
desaparecer nos tons de mar.
renascer.
florescer em todas as estações
encorajar o voo das emoções

segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Hoje tive uma experiencia desagradável

Foi durante uma reunião do DCE na UEM.

             Fui ao local com as melhores das intenções, já sabendo que minha ideologia talvez fosse rechaçada. Não precisei abrir a boca pra que isso acontecesse. Ao ouvir um rapaz se pronunciar a respeito do corte de árvores e sobre agir diante algo que parece irreversível, pensei que haveria um pouco de luz no fim do túnel. Engano meu, pois o que mais se ouvia eram comentários pejorativos a respeito de quem defende a natureza.
Como se não bastasse a incrível falta de sensibilidade, percebi um certo "ar de arrogância" pairando no ar. É sabido de todos (imagino eu) que quando uma pessoa não consegue articular seu discurso de forma coerente e clara, acaba por erguer a voz e usar palavreado de baixo calão. E adivinha? Isso aconteceu. E não foram poucas vezes.
             Falam muito sobre a baixa parcela de estudantes que participam efetivamente do movimento estudantil, porém não há espaço para um pensamento mais divergente em relação ao que já foi estabelecido. É compreensível porque alguns aparecem uma vez e nunca mais voltam. Se você tem apenas boas intenções e força de vontade, te chamam de despolitizado pra baixo, destruindo e contradizendo todo o discurso de igualdade e a "calorosa", porém ilusória, recepção de boas vindas.
             No mais, é triste confirmar que, cada vez mais, o ser humano se desumaniza, perdendo todo o tato necessário para lidar com outros seres humanos.

E como diria o bom e velho Rubem Alves:

"Quando a educação não é libertadora o sonho do oprimido é ser opressor."