terça-feira, 15 de abril de 2014

O avesso do lado de dentro.

De dentro, para dentro, do avesso ao lado de dentro.
Queria conseguir verbalizar todas as formas e imagens que se formam no meu pensamento. (O nó se instala na garganta. Os óculos embaçam.)
Do fundo do coração, queria dizer o que sinto. E quando sinto. Mas jamais explicar o porquê sinto. Acontece que existe uma trava entre as palavras que se formam no meu interior e a ação de expurga-las em idéias verbais (daquelas que façam um mínimo de sentido e conexão com o contexto.) Já faz tanto tempo que calei, nessa vida pra dentro, nesse amontoado de pensamentos barulhentos, que ora não me deixam dormir, ora me tiram do momento presente e me arrastam para outro mundo. Mundo este que conheço tão bem, mas que gostaria de transpor suas cores para o exterior.
Dói.
Profundamente. Daquelas dores de arrasar qualquer um.
Esse incomodo em querer estar aí fora como todos estão (e dizer todos já é um engano, nem todos estão), essa vontade de querer ser parte de algo e estar aparte de tudo. Sinto que estou na tangente, perambulando pelas bordas da minha existência. Ás vezes encontro um precipício, é quase como o fim do caminho; me agarro com toda a força em um galho de árvore, tentando evitar a queda. É claro, as vezes esse galho quebra, eu caio, causando desconforto no território alheio. E dói novamente, porque não sei explicar como isso aconteceu, sendo que tinha certeza de ter me agarrado no galho certo.
Para todo túnel existe uma luz. São raras as vezes que encontro essa iluminação tão branda no campo das minhas idéias: me expresso dentro do contexto, respondo, afirmo, duvido e pondero. Logo mais, há uma pausa que me obriga a filosofar internamente sobre o fato ocorrido, e pronto, estou lá de novo: do lado de dentro.
Uma sensação que é ridícula, um medo inexplicável, uma falta de jeito pra lidar com as interações sociais. Um comportamento bobo, de não saber o que e quando dizer, ou fazer.
Reprisando o passado, vejo que nunca aprendi. E se fosse esperar que me ensinassem, estaria condenada a escuridão total. Então, em meio a tanta confusão, criei meu modo de lidar. Ainda que não seja um modo padronizado de convivência, é autêntico. Ainda que eu não consiga expressa-lo em muitas situações na vida, não desisto de tentar.
Fico me questionando, enquanto ando pela rua escura e pouco movimentada, se há muitas outras pessoas que se sentem assim.
Assim. Exatamente assim: com vontade de abraçar e não ter coragem, com vontade de dizer "eu me importo" e não conseguir, por conta de um medo insólito. Essa "ação interior" que jamais se exterioriza. Essa vontade constate de puxar um assunto, pedir desculpas, perguntar se está tudo bem, saber qual foi o mal entendido. Saber se eu magoei, mesmo que eu não tenha tido a intenção. Mas a vontade sem a coragem já é uma lástima.
Creio que, agora, é questão de, no sentido mais figurativo da palavra: quebrar a cara. Chutar o balde.

Há dias em que não estamos bem. Nesses dias sinto vontade de sumir, embora isso seja um imenso clichê da crise existencial que todos nós provamos vez ou outra na vida. Largar tudo, correr pro meio da floresta, viver plenamente com um animal. Animal que sou. O mundo está sendo enterrado vivo, me sinto impotente. Tenho vontade de chorar o dia todo quando vejo uma árvore sendo derrubada. Minha alma se estilhaça ao ver a apatia no olhar opaco de quem passa por um ser e o despreza. É nesse momento, de estarrecimento e perplexidade diante esse sistema podre que adulamos, que me faltam até as palavras escritas.

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