sábado, 17 de outubro de 2015

Esquecimento


Minha querida, é o seguinte: eu até queria te esquecer, mas ao tentar te esquecer acabo por te lembrar ainda mais. Te reinvento numa memória que chega quase a falhar conforme o passar dos meses.
    De lá pra cá, desde o dia que nunca mais te vi, o inverno se foi, a primavera chegou e já é “quase natal”. Vejo teus olhos em fotografias e me lembro de tê-los visto na minha frente. Não sei se já te disseram, mas tens um olhar de tirar o fôlego. Há algo especialmente peculiar na maneira como enxergas o mundo.



    Meus sonhos já não são os mesmos desde que comecei a fantasiar mil histórias de amor a nosso respeito. Fantasiosas e ridículas, diga-se de passagem. Tu, aí no teu canto, com tua profissão, teu chão, tua vida. Eu aqui, com minhas ilusões, meu diário e vários anseios. Quem diria que o universo me causaria tamanha revolução dentro do peito.
    Sempre aos poucos, após um mergulho nas lembranças, volto com a corda no pescoço. Teu nome grita na rua, na praça, na árvore e no morro. Tua voz sussurra vívida no fundo da consciência. Teus atos pequenos e intrínsecos adentram minha essência. E eu, sem poder mais resistir, me entrego ao turbilhão. E os pensamentos vão chegando, chegando, chegando... numa espiral sem fim e sem piedade.