terça-feira, 8 de dezembro de 2015

metropolitano maringá/mandaguari

Sábado, por volta das 21:30, entrada de Marialva.

Breu.

Tiver certeza que uma bala atravessaria minha cabeça. Pensava: "Que bosta. Não acredito que vou morrer assim, no meio do nada, a caminho de."
É fato: ninguém nota nossa bagagem na vida; a sacola é invisível aos olhos que não presenciaram.
Segue-se viagem. Nada importa. A roda continua a girar. Quantas pessoas ficaram pra trás? Quantas rotinas foram alteradas? Quantos olhares ficaram perdidos no horizonte?

Conexões momentâneas com pessoas estranhamente familiares, desabafando suposições, suas versões dos fatos, suas memórias, tanta subjetividade interligada, sincronizada...

Saltar degraus. Fechar janela porque outra pessoa sente frio.

A senhora saiu como um tiro pela porta, levando suas latinhas: "Aqui ninguém põe a mão não." Diz a voz convicta da experiência.
A cada parada um olhar desconfiado. A porta que era saída tornou-se entrada de perigo iminente. De repente, não mais que de repente, as luzes longínquas da cidade vertem poesia aparentemente inédita. O piano de Bach já tem sonoridade diferente nos tímidos fones de ouvido. Na rádio pensamento toca a música de quem já passou por mais essa e sobreviveu pra dar risada na cara do perigo.
____

Teardrops - Massive Attack, não reparei o que acontecia até ver pessoas correndo desesperadas pela porta. A energia. O peso. O drama. O terror. Ainda sem saber, corro junto com a multidão de um ônibus lotado, achando que tudo iria explodir. Uma voz mais a frente grita: "Fecha essa porta senão eu enfio a faca no motorista."
Fecha-se a porta em cima das pessoas. Braço roxo. Perna manca.
Vejo alguém com uma faca no pescoço do cobrador. Corro pro fundo com a pequena parcela de pessoas restantes. Sinto um tiro imaginário ecoar no meu cérebro. Efeito de pânico. "Senta aqui do meu lado fia." Diz a senhora em choque. O ônibus começa a se movimentar no breu, rápido, fugaz. Pessoas ficaram pra trás. Olhos estatelados, coração acelerado, pele gelada. Silêncio. Os assaltantes ficaram pra trás. Não choro. Não consigo. Rodoviária, ligações, conexões, suposições, espera. 40 minutos. B.O.
Um ônibus lotado volta pra casa com acentos vazios. As palavras vão se perdendo e os pensamentos entram num redemoinho. A vida inteira passou diante os olhos. Há vida diante os olhos.


0 comentários:

Postar um comentário