segunda-feira, 6 de julho de 2015

Palavras para um diário imaginário



Acho que é uma inquietação de não conseguir caber nas coisas do jeito que elas são.

Às vezes é uma vontade de sumir. De transcender. De achar que do outro lado é melhor.

É isso de acreditar que existem sempre coisas boas escondidas num dia ruim.

É esse inferno que foi minha adolescência. É verdade, ela não foi pior do que a de muita gente. Mas foi ruim.

Eu sentia que não tinha liberdade pra ser quem eu era. Acho que desde os 12 ou  13 anos, se bem me lembro. Foi nessa idade que tudo se intensificou, mas as questões cresceram comigo enquanto eu brincava de boneca, conversava sozinha, ficava olhando pro "nada" com cara de abobalhada, enquanto eu me sentia sendo arrastada a cada novo trovão durante uma tempestade...
É negatividade isso de lembrar-se das coisas ruins da infância? Digo, eu poderia estar aqui rememorando momentos bons, mas eles não se sobrepõem (pelo menos no momento.).
Aos 4 eu já tinha medo de ir pra escola, medo de não fazer amiguinhos, medo da professora do primeiro pré (tanto é que fugi duas vezes pro segundo pré), enfim, eu era bem medrosa. Mas ao mesmo tempo que era a rainha do medo, também era a rainha da ousadia e petulância. Apanhei muito da vida (e das pessoas) por causa disso. Talvez ter apanhado tenha me feito crescer com ódio. Talvez tenha me feito crescer me projetando num outro lugar, no mundo dos sonhos, da poesia, do amor, da beleza dos sentidos. Mas isso era comum na época. Eu me lembro de ficar impressionada quando alguma amiguinha me dizia: "ah, eu nunca apanhei, nem um tapinha". Entretanto, não é esse o fio da meada.
Como eu estava dizendo, mais ou menos aos 13 anos, fui percebendo mais detalhes do mundo, daquele mundo que eu achava que seria um tiquinho melhor. Nos primeiros anos do então conhecido "ginásio", que era de quinta a oitava série, fui uma menina que ainda continuava aprontando muito, apesar de. Sempre dava meu jeitinho. Não que muitas pessoas gostassem, mas eu era bem teimosa e petulante. Um pouco revoltada também, afinal, adolescência. Antigamente eu era colocada pra fora da sala por conversar demais, mas ao chegar na sétima série, me calei. É assim que lembro.
Daí pra frente a coisa foi ficando feia. O bullying já era uma tendência crescente, e eu, pra não cair na exceção, estava entre as pessoas mais zoadas da turma. Acho que essa foi a segunda grande dose de ódio que se introjetou na minha vida. Eu me agarrava fortemente nas poucas amizades que tinha e nos sonhos de seguir uma carreira artística no futuro. O período dos quinze anos foi horrível. Foi o pior ano da minha vida, sem pestanejar! Foi o ápice da crise de TOC (transtorno obsessivo compulsivo), depressão e ansiedade (que costumam vir no combo). Um ano inteiro sem saber o que eu tinha, achando que eu estava errada o tempo todo, sentindo coisas que pareciam não vir de mim, me rendendo a rituais dolorosos para afastar pensamentos igualmente dolorosos. Medo. Muito medo. Pavor. Pânico. Sem ar. Querendo realmente estar morta. Sem ninguém pra conversar. Conectada com a solidão. No ano seguinte eu fui salva pela própria crise. Conheci um psiquiatra que vou chamar aqui de Doutor Anafranil (nome do medicamento que eu tomei e que quase me causou uma hepatite medicamentosa a longo prazo). Bem, Dr. Anafranil queria me ajudar, mas ele também queria ganhar o salário dele, obviamente, né amores.
Aos poucos fui simpatizando com este senhor, pois via nele a pessoa que me ajudava a afastar aquelas ‘pavorosidades’ da minha vida. Eu melhorei. Melhorei muito. Eu não pensava que eu pudesse me sentir tão bem de novo. Meus olhos brilharam novamente. Isso aconteceu durante um bom período dos 16 anos, época que estive novamente no primeiro colegial. Eu até voltei a aprontar. Fiz amigas, fiz muita cara feita, fiz tarefa em cima da hora enquanto a professora dava visto no outro lado da sala. Fiz panelinha. Visitei inúmeras vezes a sala da supervisora! Nossa, acho que ela me amava, porque não era possível. Mas tá, muitas vezes eu pedia pra ser repreendida e abusava das desculpas - quase - esfarrapadas. Era complicado, ainda que fosse mais aerado. Eu fui ganhando liberdade outra vez. Mas... (quantos 'mas' possui este texto? te desafio a contar)... então, eu caí lá no fundinho do poço de novo quando conquistei meus maravilhosos 18 anos. Oh, que idade simbólica, meramente simbólica. Nada muda muita coisa, a não ser as pessoas dizendo "você já tem 18 anos e lalalala blablabla nhenhenhe nhe". Na verdade acho que foi na transição dos 18 para os 19.
Desde muito antes eu já nutria paixões platônicas, mas agora eu era uma pessoa perigosa, eu estava disposta a ir atrás delas, custasse o que custasse. Quebrei a cara, lógico, que outra resposta poderia se esperar? Em troca eu ganhei boas doses de aventura. Me relacionei -quase- amorosamente com algumas pessoas, quebrei a cara de novo. De novo. E de novo. Colecionei mais algumas paixões platônicas. Insisti em quem não deveria insistir. Descobri uma in fi ni da de de maneiras para proporcionar diversão. Aliás, esqueci de mencionar que a primeira vez que fiquei bêbada foi aos 18 anos. Sim, eu pulei a adolescência "convencional". Digamos que ela começou nessa época aí.
Com o passar do tempo fui agregando valor ao meu sentimento perante a vida. Queria estar viva. Sentia enorme vontade de enveredar por alguns caminhos, mas não investigava as possibilidades. Muitas vezes voltei a me culpar. Acontece. Passei pela crise dos 21, que irei chamar carinhosamente de "Ou vai, ou racha", aquele momento que você precisa, realmente, refletir qual caminho quer tomar, se quer mesmo tomar e o que está disposta a fazer para realizar os próprios sonhos. Daí você é obrigada, obrigada mesmo, a crescer. E meu bem, isso dói. E desculpe, mas o que vem depois não são só flores. Tem muito espinho envolvido nessa roseira da vida. A gente tem que aprender a lidar, a ter cuidado, a respeitar as emoções, entende-las, sublima-las, permiti-las e deixa-las ir. Temos que entender que algumas ilusões vão virar pó. Que as pessoas vêm com a mesma frequência que vão. Que o amor muitas vezes vai ser unilateral, talvez, com muita sorte, incondicional.
Hoje, aos 24 anos, pisciana, ascendente em leão, lua em gêmeos e muita coisa pra fazer, acho que ainda não sei quase nada. Ainda choro sozinha as vezes. Muitas vezes. Detesto chorar em público. Ainda falo mal da amiguinha vezenquando, mas depois me sinto péssima por isso e percebo que algumas certezas são na verdade projeções. Percebo que numa discussão entre duas pessoas, nem sempre uma precisa estar errada para que a outra esteja certa. Continuo me apaixonando platônica e intensamente. Entendo que há dias em que tudo vai parecer uma bosta, mas noutros dias a luz se fará presente, e nesses momentos penso "aproveita, gata, aproveita que depois passa". Acho que é isso. É essa a vibração. A energia. A frequência. É isso de aproveitar intensamente o momento, treinando a presença total, com o coração exposto pra fora.

"É tudo uma questão de manter a mente quieta, o coração tranquilo e a espinha ereta."

Vivo pela curiosidade.

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