Por muito tempo fiquei me questionando se eu tinha o direito de expor meu lado a respeito da greve. Meu lado como estudante.
Vim morar em Maringá por conta dos estudos, uma vez que gastava em média 3 horas por dia apenas com trajeto: 1 hora para chegar até Maringá, meia hora para chegar até a UEM, mais meia hora pra voltar ao terminal e mais 1 hora pra chegar em Mandaguari. Era extremamente exaustivo e isso me privava de várias oportunidades para meu treinamento como artista.
Depois de um ano inteiro trepidando diariamente dentro de um ônibus superlotado consegui me mudar para essa cidade que parecia ter todas as portas abertas.
(Quanta ingenuidade.)
Achei um prédio no final de uma avenida barulhenta. O aluguel era aceitável e o apartamento amplo com janelas enormes e uma árvore na frente delas. Depois de tanto pesquisar a gente acaba cansando e se agarra na melhor opção momentânea.
Pensei que levaria mais 3 anos aqui até terminar a faculdade de Artes Cênicas. (É claro que o universo tinha algo mais pra colocar no meu caminho.)
Antes de tudo isso, em 2012, desisti na metade do curso; foi uma avalanche de informações para as quais eu não estava preparada. Quando eu olhava para os lados pensando em pedir ajuda para os colegas me via numa posição desconfortável, semelhante ao bullying que sofri por quase toda uma vida. Talvez fosse uma dose de paranoia aqueles olhares desconfiados, tortos e zombeteiros. Talvez eu quisesse pensar que era paranoia porque isso iria doer menos. Parei nas férias do primeiro semestre e resolvi ir pensar na vida. Isso mesmo: PENSAR NA VIDA. Em letras garrafais. Se possível eu faria com que piscassem em neon. É considerado feio parar e apenas pensar. Mas eu precisei. Fui minha própria psicóloga durante 6 meses intensos; tentava decifrar minhas emoções mais obscuras, separar umas das outras e elaborava questões para as quais eu mesma encontrava resposta.
Então depois dessa imensa curva no tempo, depois de trepidar durante um ano, depois de cansar a beleza procurando apartamento, depois de tudo isso, quando chego no terceiro ano da graduação eis que ocorre uma greve. Greve justíssima aliás.
Sei que os direitos dos servidores públicos são menores do que os deveres e que o salário que recebem não corresponde à importância de seu respectivo trabalho. Mas... e os estudantes ficam onde nesse período de greve? O aluguel está caro. São tempos inóspitos para sonhadores. Estou sem aulas e já me sinto sem rumo com a possibilidade de perder um ano inteiro. Não posso assinar um contrato de emprego pois a qualquer momento a greve pode terminar. Não posso trabalhar no bolsa emprego da UEM porque, bem, a UEM está parada. "Ah, mas e a pizzaria, pequena Soph?"
Não consigo me adaptar. "Ah mas quem tem necessidade se vira." Daí eu volto naquela coisa de: não tente encaixar ninguém na sua moldura, na sua ótica de vida.
Com a greve foram embora as aulas, os encontros, os ensaios, a bolsa emprego e ficou uma saudade dos tempos em que estaríamos todos surtando e escrevendo três artigos por semana. Daquele tempo logo ali, no qual sentaríamos na cantina central pra debater trabalhos e desanuviar.
Do meu mais sincero sentir: espero que o reajuste de 8,17% seja feito. Não consigo imaginar o quão desesperador seria para algumas pessoas perder um ano letivo inteiro.
Há luz no fim do túnel? Há túnel?