as vezes parece que tem uma mesa de bar dentro da minha cabeça. lotada. as pessoas estão gritando.
eu queria que nesse bar aparecesse alguém dizendo que tem outros lugares pra visitar. o problema é que esse alguém nunca aparece.
então eu fico ali, passando o olhos nas pessoas pra ver se alguma delas me convida pra fazer-alguma-coisa-sabado-a-noite. nenhuma delas fala nada. nem bom dia, nem boa noite. no entanto continuam todas gritando.
eu tento gritar também, mas a minha voz não sai.
todo mundo indo e vindo. eu procuro novamente algum olhar.
ninguém.
todo mundo tem um lugar pra ir. eu continuo ali. posso sair no momento em que eu quiser, mas sei que fora dos limites do estabelecimento eu serei mais uma desconhecida. pelo menos ali eu existo. indiferente. mas existente. insignificante. mas presente. dispensável. mas insistente.
se eu levantasse e fosse embora, tardariam a perceber.
é que cheguei tarde. bem tarde. alguns anos atrasada. não pedi desculpas, não havia porque pedir desculpas. desculpas não consertam nada. desculpas são inúteis. desculpas deveriam ser jogadas pra fora do bar sem dó, sem piedade.
olhei de novo:
todas as mesas estavam gritando, cantando, sorrindo, abraçando. eu tentei alcança-las, mas meus braços não me obedeceram. eu tentei levantar, mas meu esforço foi em vão.
e na condição de espectadora, fiquei a contemplar.
mais tarde, quando finalmente o movimento desacelerou, fiquei sozinha na mesa. ainda haviam algumas pessoa empilhando cadeiras. contemplei-as. fecharam o caixa. passaram a chave no portão, despediram-se e foram embora.
e eu?
eu jamais estive ali.